Existe coisa mais gostosa do que viajar? Agora imagine viver algumas horas como um explorador de novas terras e culturas com os olhos de um milanês. Em um museu chamado Mudec (Museo delle Culture), na descolada Via Tortona n. 56 em Milão, você encontrará objetos, textos e até animais que representam viagens e povos: americanos, africanos, orientais.

Descobrindo o Mudec, Museo delle Culture em Milão

Por fora é aparentemente um edifício típico milanês, não fossem as diversas placas que chamam atenção para algo interessante que está acontecendo dentro.

Ao atravessar a primeira entrada, a gente encontra enormes portas de vidro, que dão para o hall de ingresso do museu, onde existe uma lojinha e a bilheteria.

Minhas filhas Gaia e Aurora em frente a porta de vidro do ingresso do Mudec
Minhas filhas Gaia e Aurora em frente a porta de vidro do ingresso do Mudec

Apesar da entrada para a coleção permanente e algumas mostras serem gratuitas, é necessário emitir um ingresso. Vale saber também que sempre tem alguma mostra à pagamento.

Com os ingressos na mão subimos pela escadaria central que leva até o primeiro andar. A arquitetura da escadaria e do edifício já nos transporta para outra dimensão — como se estivéssemos prestes a atravessar oceanos em busca de descobertas e aventuras.

No hall principal do primeiro andar encontramos expostos alguns objetos dos primeiros globetrotters como por exemplo uma Lambretta que percorreu aproximadamente 160 mil quilômetros (!) entre os anos de 1956 e 1959 através da Europa, Ásia e América. Este scooter foi produzido no estabelecimento milanês de Lambrate com a marca Innocenti.

Outro objeto que chamou nossa atenção foi uma das primeiras bicicletas dobráveis, realizadas no início do século XX. Essa pequena bicicleta artesanal podia ser fechada em uma pequena mala, foi criada com fins militares, mas se difundiu para uso civil entre o final dos anos 1920 e a Segunda Guerra Mundial. Este tipo de bicicleta foi criado não apenas para o uso na cidade, mas também para ir rapidamente até uma estação ferroviária ou o porto mais próximo e embarcar junto com o passageiro.

A coleção permanente do Mudec

Logo na entrada da exposição, somos transportadas para o século XVI, quando Milão passou a fazer parte do poderoso Império Espanhol. Foi a partir daí que a cidade entrou de vez no cenário internacional, conectando-se com os grandes fluxos comerciais da época — inclusive com as Américas.

imperio espanhol mudec
Mapa na parede do Mudec mostra as principais rotas comerciais marítimas entre os séculos XVI e XVII

Chegam à cidade objetos raros e não europeus, incorporados a coleções enciclopédicas como a de Manfredo Settala. A prata das minas de Potosí transforma Milão em um centro de produção de moedas e artigos de luxo, como os famosos reales de a ocho. A sala destaca também os impactos devastadores dessa exploração sobre as populações indígenas americanas e os africanos escravizados.

Enquanto o cacau e o tabaco vêm das Américas, o chá e o café chegam da Ásia, junto com porcelanas finas e tecidos que conquistam o gosto europeu. A China assume papel de destaque no comércio de luxo, e o fascínio pelo Oriente inspira as cineseries — versões europeias de peças orientais. O setor têxtil também se transforma com estampas e materiais vindos do Oriente, com Milão integrando essa tendência global tanto na produção quanto na importação. A mostra permanente do Mudec inclui diversas salas, incluindo uma seção dedicada à Africa.

Uma das alas que mais chamou a nossa atenção foi a sala com um tatu taxidermizado do século XVII, um grande crocodilo e um martelo brasileiro que pertencia a população Zo’, do Pará, realizado na metade do século XX.

mudec milao

O peixe balão (pesce palla) vindo do Mar Rosso e do Oceano Pacifico também era inquietante. Fiquei pensando se antigamente alguém conservava essas preciosas peças na própria casa antes de virem parar neste museu. Já pensou?

Mostra temporária: TRAVELOGUE – Storie di viaggi, migrazioni e diaspore

Até o dia 21 de setembro de 2025 quem passar pelo Mudec também poderá visitar gratuitamente a mostra temporária “TRAVELOGUE – Storie di viaggi, migrazioni e diaspore”.

Travelogue - Mudec

Viajar sempre foi mais do que se deslocar de um lugar a outro. É com essa visão que o MUDEC, em Milão, apresenta a mostra Travelogue. Storie di viaggi, migrazioni e diaspore, com curadoria de Katya Inozemtseva e Sara Rizzo. A exposição parte da própria história das coleções do museu, formadas por objetos trazidos por milaneses de diferentes épocas — exploradores, estudiosos, viajantes e apaixonados por outras culturas — que viam no colecionismo uma forma de eternizar encontros, descobertas e memórias.

A mostra abre com uma seção dedicada ao “viaggio mitico”, trazendo figuras como Caronte e Dante, e avança explorando temas como o nomadismo, os deslocamentos mentais e metafóricos, até chegar à materialidade do turismo e da migração. O visitante encontrará desde miniaturas e réplicas até objetos feitos para o mercado turístico e itens pensados para uso local, além de diários de viagem, cadernos de esboços e álbuns de fotos — registros pessoais que, entre o fim do século XIX e o século XX, contaram histórias únicas sobre o mundo.

travelogue mudec

Uma das obras que mais chamou nossa atenção foi o “laheto”. Esse nome estranho indica um exemplo de arte plumária brasileira: cocar cerimonial usado na parte de trás da cabeça (laheto) é um ornamento típico de jovens indígenas já iniciados, utilizado em cerimônias como a Festa da Casa Grande, que marca o importante rito de passagem para a puberdade.

O laheto faz parte das tradições de diversas etnias indígenas no Brasil e carrega um profundo significado simbólico ligado à identidade, ao pertencimento e à espiritualidade. Mais do que um adorno, é um elemento de conexão entre o corpo e o sagrado, entre o indivíduo e sua comunidade.

A peça apresentada vem do Brasil e integra a coleção de Aldo Lo Curto, médico que atuou no país por muitos anos. Seu interesse ia além da prática médica tradicional: “Queria compreender as tradições das populações com as quais tive contato e entender como enfrentam a doença. Na medicina ocidental, nos concentramos demais na tecnologia e não o suficiente no contato humano”, afirmou.

Essa perspectiva humanista se reflete na forma como o cocar é valorizado: não apenas como objeto estético, mas como testemunho de um saber ancestral, de uma cultura viva que continua a se expressar através de gestos, cores, ritos e penas.

Para conhecer todas as mostras em cartaz do Mudec cliquei aqui

Restaurante 3 estrelas Michelin: Enrico Bartolini no Mudec

No terceiro andar do Mudec encontra-se também um dos restaurantes mais renomados de Milão: Enrico Bartolini, consagrado com 3 estrelas Michelin.

Restaurante estrelado em Milão: Enrico Bartolini no Mudec
Restaurante estrelado em Milão: entrada do Enrico Bartolini no Mudec

Para quem quer experimentar verdadeiras obras de arte gourmet ou quem sabe quer impressionar a doce metade pode ser uma ótima ideia. Mas prepare o bolso porque você vai gastar diversas centenas de euros por pessoa.

O restaurante geralmente abre de terça a sábado das 12:30 às 14:00 e das 19:30 às 22:00. É recomendável reservar uma mesa com antecedência pelo telefone +39 02.84.293.701 ou por e-mail ristorante@enricobartolini.net.

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Barbara Bueno - brasilnaitalia
Barbara Bueno é uma jornalista brasileira que mora em Florença desde março de 2005. Foi para a Toscana em busca das suas origens italianas. Em janeiro de 2007 criou o blog BRASIL NA ITALIA. Já trabalhou como content manager para a Regione Toscana, obteve habilitação como assistente turística e foi proprietária de agência de viagem na Italia (até chegar a pandemia...). Hoje se interessa por criptomoedas e voltou a fazer o que mais gosta: buscar novidades, visitar lugares interessantes e escrever! Se você tem uma dúvida sobre a Italia visite a seção Dúvidas sobre a Italia.

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