[Feminismo] O que Anitta e Melinda French Gates tem em comum

O que Anitta e Melinda French Gates tem em comum?

Neste verão de 2021 basta ligar a rádio aqui na Italia para escutar uma música da cantora brasileira Anitta. Este ano um dos principais hits da Anitta na Italia que tocam o tempo todo é a canção “Girl from Rio“.

Parei para prestar atenção no texto de Girl from Rio e um trecho em especial não sai da minha cabeça, diz assim: “Babies having babies like it doesn’t matter“. A tradução para o português seria algo do tipo: “Meninas tendo bebês como se não importasse”.

Neste verão também está por toda parte nas livrarias italianas o novo livro de Melinda French Gates. Eu comprei a versão original em inglês, “The Moment of Lift: Empowering women changes the world“, que na versão brasileira se chama “O momento de voar: Como o empoderamento feminino muda o mundo“.

De repente me pareceu que o livro de Melinda French Gates tem tudo a ver com a nova música de Anitta. Quer saber mais? Então vou explicar aqui neste artigo.

Melinda French Gates: uma feminista fervorosa

A ex-mulher de Bill Gates, Melinda French Gates é presidente da Fundação Bill & Melinda Gates, a maior fundação privada do mundo que se dedica a desenvolver e implementar programas de saúde e geração de renda que transformam a vida de famílias, comunidades e sociedades.

No livro O Momento de Voar Melinda French Gates conta que a primeira vez que perguntaram se ela era feminista, ela não sabia o que responder porque não se imaginava como uma feminista. Na época ela nem sabia direito o significado de ser feminista. Naquele período a filha de Melinda, Jenn, tinha menos de um ano de idade.

Vinte anos depois Melinda French Gates se auto define uma “feminista fervorosa”. Para ela ser feminista é muito simples. Significa acreditar que todas mulheres devem poder usar a própria voz e lutar com seu potencial e que mulheres e homens deveriam trabalhar juntos para diminuir as barreiras e colocar fim as limitações que ainda limitam as mulheres.

Melinda French Gates explica no seu livro: “se você procurar a pobreza, você vai encontrar mulheres que não tem poder. Se você buscar prosperidade vai encontrar mulheres que tem poder e o usam.”

E Melinda French Gates fala muito sobre gravidez no seu livro. Segundo seu ponto de vista, quando as mulheres tem a oportunidade de escolher quando ter filhos e de planejar uma gravidez elas terão maior oportunidade de avançar na formação educacional, ter uma renda, crescer filhos saudáveis e ter tempo e dinheiro para que cada filho tenha comida, assistência e educação. E quando os filhos podem alcançar seu potencial, eles não terminam pobres. Este é o modo como famílias e países saem da pobreza. Nenhum país saiu da pobreza nos últimos 15 anos sem aumentar o acesso a contraceptivos.”

Melinda French Gates escreve que a pobreza é não ser capaz de proteger sua família. Pobreza é não poder salvar seus filhos quando mães com mais dinheiro poderiam salvá-lo. Para ela a ciência deve servir a todos, nenhum deve ser excluído.

No livro O Momento de Voar ela conta sobre sua experiência como mãe em um país como os Estados Unidos. Talvez você não saiba mas no estado de New York no início do século XX era proibido falar sobre contraceptivos, mesmo para médicos! É claro que essa lei não foi feita por mulheres e nenhuma mulher votou essa lei. Até porque na época as mulheres americanas não podiam votar. Foi apenas em 1965 que a Corte eliminou as restrições ao uso de contraceptivos exclusivamente para mulheres casadas. A nova lei não mencionava o direito das mulheres não casadas, por isso muitas mulheres solteiras não podiam tomar contraceptivos em muitos estados americanos. Imagine que apenas em 1972 mulheres não casadas tiveram direito a usar contraceptivos nos EUA. Mil novecentos e setenta e dois, ou seja praticamente 50 anos atrás!

Melinda French Gates teve a oportunidade de visitar muitos vilarejos pobres da África e conversar com muitas mulheres sobre suas condições de vida. E boa parte da narrativa do livro é sobre o fato de como uma gravidez planejada pode melhorar as condições de vida dessas mulheres, de suas famílias e das novas gerações. Seja nos Estados Unidos como na África ou qualquer outro país do mundo.

Rio de Janeiro e gravidez não planejada

Depois de ler dezenas de páginas escritas por Melinda Frech Gates falando sobre a importância da gravidez planejada e do uso de contraceptivos para melhorar as condições de vida de uma população a gente volta a ouvir a música de Anitta, que relata que em pleno século XXI, no Rio de Janeiro, Brasil, meninas estão tendo filhos sem o menor planejamento.

E já que estamos falando nisso, lembrei de um outro fato. Em um evento online para brasileiros na Italia organizado pelo grupo Mulheres do Brasil no Norte da Italia, uma ginecóloga brasileira que trabalha na Italia comentou sobre as diferenças no atendimento de mulheres brasileiras e italianas. A ginecóloga contou que enquanto as italianas vão buscar uma receita para um anticoncepcional, por exemplo, muitas brasileiras desconhecem o próprio corpo, os métodos anticoncepcionais e é preciso partir do zero nas consultas.

Na internet também não faltam relatos de brasileiras que descobriram que estavam grávidas exclusivamente na hora de parir. Imagine ter um bebê por mais de 8 meses na barriga e não perceber que está grávida, não dar a relativa importância para todas as mudanças do corpo no período. Acontece. E se a gente não der informação para essas meninas é possível que continue acontecendo.

Muita gente não pensa em feminismo. Inclusive muitas mulheres brasileiras não percebem que feminismo é ter a possibilidade de escolha, de usar a própria voz, de decidir o próprio destino. Quer fazer um teste sobre o quanto você reconhece o talento e força das mulheres?

Vamos relembrar dessa mensagem que circulou no Facebook há uns anos atrás.

Teste: Você sabe responder quem é a pessoa mais competente do centro cirúrgico?

“Pai e filho sofrem um acidente terrível de carro. Alguém chama a ambulância, mas o pai não resiste e morre no local. O filho é socorrido e levado ao hospital às pressas. Ao chegar no hospital, a pessoa mais competente do centro cirúrgico vê o menino e diz: ‘Não posso operar esse menino! Ele é meu filho!’.”

A resposta é bastante óbvia: a pessoa mais competente do centro cirúrgico era a mãe do menino. Mas na época boa parte dos leitores só conseguia imaginar um homem como a pessoa mais competente do centro cirúrgico.

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